04/04/2015

Entrevista da Kristen e Juliette Binoche para The New York Times

Alguns anos atrás, a atriz Juliette Binoche entrou em contato com seu antigo amigos Olivier Assayas, o diretor francês que escreveu o filme “Rendez-Vous,” que a lançou para a fama três décadas atrás.
Ela disse para ele que eles deveriam fazer outro filme juntos – um filme centrado na mulher com eco em um dos ídolos do Sr. Assayas, Ingmar Bergman, sobre quem ele tinha escrito um livro. Srta. Binoche e Sr. Assayas trabalharam juntos em 2009 em ‘Summer Hours‘, mas Srta Binoche queria mais. “Senti como se não tivéssemos tido um momento para nos conhecermos melhor – não tivemos esse tempo no qual você realmente pode cheirar a pessoa, sabe?” Ela lembra.
“Sim, você está certa, Juliette,” Sr. Assayas lembrou respondendo, “há algo faltando na nossa relação.”

Então, durante os próximos anos, entre as filmagens de seu celebrado filme sobre Carlos, o Chacal, Sr. Assayas escreveu um filme para Srta. Binoche, ‘Clouds of Sils Maria‘ que chega ao cinemas americanos na sexta-feira. Filmado em inglês, conta a história de Maria Enders, uma atriz lutando contra o envelhecimento e de luto pela perda de seu mentor. Décadas antes, esse mentor a fez uma estrela ao colocá-la no elenco de uma peça como uma menina ingênua e irresponsável, Sigrid, que leva uma mulher louca de amores, Helena, ao suicídio.

Srta. Binoche é Maria; Kristen Stewart é sua assistente americana, Valentine; e Chloë Grace Moretz é uma impetuosa atriz americana que irá interpretar Sigrid de frente com a Helena de Maria em um remake da peça.

“Eu não quis escrever um papel para Juliette,” Sr. Assayas disse. “Eu queria fazer um filme inspirado em Juliette, usando Juliette como personagem.” Ele adicionou: “E eu realmente fui por esse caminho; uma das camadas que trabalha isso é o fato de que você nunca perde contato com o fato de que você está olhando para Juliette Binoche, Kristen Stewart e Chloë Moretz. Isso faz parte da narrativa de um certo modo.”

Apesar do filme estar sendo lançado só agora, sua premiere em Cannes foi no ano passado, onde conseguiu elogios mas não conseguiu prêmios, e foi exibido no New York Film Festival no ano passado. Srta. Binoche, Sr. Assayas e Srta. Stewart sentaram separadamente em Nova York para falar sobre o filme.

Enquanto o enredo de “Clouds” alude a “Rendez-Vous“, o qual termina com a personagem de Srta. Binoche, uma atriz principiante, prestes a entrar no estrelato, Srta. Binoche disse que ela não compartilha a melancolia que acompanha Maria pelo filme. “Há algo sobre o passado que, de algum jeito, ela não fica em paz,” Srta. Binoche disse com cappuccinos na esquina do Crosby Street Hotel.“Ela está tentando aguentar firme, então há algum tipo de passagem que ela não consegue fazer, onde ela se sente presa e abandonada.”

Luminosa em seus 50 anos (51 desde a entrevista), Srta. Binoche se deparou com uma mulher à vontade com si mesma. “Eu não estou dizendo que é fácil envelhecer, mas eu amo o presente,” ela continuou. “Em todos os períodos da minha vida, eu realmente vivi, então não estou evitando isso, não me sinto como se tivesse perdido algo.”

Em ‘Clouds‘, a relação do núcleo, e é complicada, é entre as personagens interpretadas por Srta. Binoche e Srta. Stewart, com apenas um homem à vista, algo que Srta. Stewart apreciou. “Se você pensar nas relações que você geralmente tem em filmes, até mesmo o título das relações, só há algumas delas,” ela disse. “Você tem amigos, mãe, pai, namorado, namorada, marido, esposa.” Maria e Valentine são, disse Srta. Stewart, “como se tudo isso fosse uma coisa só, e ao mesmo nenhuma dessas coisas.”

Uma presença fina e alerta, Srta. Stewart nos encontrou para conversar em um quarto ensolarado no Trump International Hotel em Columbus Circle, e olhou ansiosamente para a extensão arborizada do Central Park do outro lado da rua. Esse era um daqueles dias, ela murmurou, que ela desejou poder estar lá fora. Claro, se qualquer atriz poderia ser reconhecida em um piscar de olhos nessa parte cheia de turistas em Manhattan, seria ela. Essa realidade de Srta. Stewart, amplificada pela insaciabilidade dos tablóides sobre sua vida, inspirou o papel de Valentine – que age como um portão para Maria, a defendendo, colocando limites nas solicitações de trabalho enquanto a ajuda a navegar nos caprichos e vulgaridades das celebridades – com um nível de satisfação que Srta. Stewart apreciou.

“Eu teria trabalhado em qualquer coisa com Olivier,” disse Srta. Stewart, que também ganhou oCésar (prêmio francês equivalente ao Oscar) por sua performance como Valentine, se tornando a primeira atriz americana a ganhar o prêmio. “Mas o aspecto industrial disso, reconhecendo o absurdo da situação, eu fiquei tonta. Eu quase não conseguia conter minha alegria enquanto dizia as falas.”
Trabalhar com Srta. Binoche a manteve com seus pés no chão, disse Srta. Stewart. “Ela é essa mulher forte, nobre, excêntrica e estranha, mas brilhantemente inteligente e inebriante. Ela é maravilhosa,” ela disse. “Ela é tudo o que você espera que Juliette Binoche seja.”

Por muito do filme, Valentine e Maria passaram o tempo na aldeia suíça isolada de Sils Maria, onde Valentine ajuda uma Maria conflituosa a se preparar para interpretar Helena, que foi interpretada originalmente por uma atriz que Maria tem um longo desprezo. Sr. Assayas veio a encontrar a área em uma caminhada, quando ele viu o fenômeno de suas nuvens, que o vento faz ficar entre as montanhas como cobras. “De repente houve essa ideia de paisagem, onde o tempo estava inscrito, onde essa nuvem era tanto bonito quanto ameaçadora,” ele disse ano passado para esse artigo.
No final, após lutar fortemente com si mesma, e também com Valentine, Maria finalmente encontra sua paz, quando ela ensaia com a personagem da Srta. Moretz e nos dá a interpretação da atriz mais nova no papel.

“O único futuro que ela pode ter, é mudar a si mesma, e ela cresce por causa desse conflito, e ela se separa do passado,” disse Srta. Binoche. “Me tocou bastante. Essa separação, é sempre dolorosa. O que é doloroso, na verdade, é a não aceitação, a resistência é dolorosa. E quando nós paramos de resistir, é quando a mágica acontece.”

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