“Eu nunca pensei tipo ‘Um dia, eu vou ganhar o Oscar,’” Kristen Stewart me disse na sexta-feira, quando nos encontramos no campus da Universidade de Santa Mônica. A atriz de 24 anos, que tem atuado desde que tinha nove, diz que seus sonhos sempre foram centrados no trabalho e não na recompensa. “De verdade, meu ‘um dia’ sempre foi ‘um dia eu serei diretora! Um dia eu irei dirigir filmes!’”
A maior parte do motivo pelo qual Stewart possui essa atitude é seu entendimento – adquirido a partir de seus 15 anos de experiência e de seus pais, que também são empregados na indústria – que o trabalho é o que importa, e não o dinheiro, fama ou elogios, os quais tem valor fugaz. Mas, ela deixa transparecer, parte disso também é um mecanismo de defesa: “Eu já passei por tanta merda que eu apenas fico ‘Eu não sou a vencedora!’ Eu não vou ficar para baixo quando não receber o tapinha nas coisas, eu estou totalmente acostumada com o pé na bunda.”
Portanto, Stewart ficou tão surpresa quanto todos no dia 20 de fevereiro quando, em seu assento no César Awards, o Oscar francês, em Paris, ela ouviu seu nome ser anunciado como a vencedora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por sua performance no filme de Olivier Assayas, Clouds of Sils Maria, como a assistente de uma estrela de cinema, a fazendo ser a primeira atriz americana a levar um César para casa.
“Oh cara, minha cabeça ficou uma loucura, para ser honesta,” Stewart diz. “Eu não estava acreditando que eu tinha sido indicada, e então obviamente eu realmente, realmente não conseguia acreditar que eles me deram o prêmio, porque essas pessoas raramente distribuem elogios, especialmente para americanos.” Ela adiciona, “foi muito bom,” e então diz em um tom arrogante falso, “eu iria preferia um Oscar francês do que um americano” antes de cair na gargalhada.
Eu falei com Stewart em vários ocasiões ao longo dos anos e, desde então, tenho o prazer de informar que cada vez ela pareceu mais em paz consigo mesma e com sua posição aos olhos do público. Na última vez que nos falamos, foi em novembro no AFI Fest, onde, em um painel que moderei, ela mais do que se prendeu ao lado de Marion Cotillard, Jake Gyllenhaal, Bill Hader,Michelle Monaghan e Tilda Swinton, falando eloquentemente sobre a indústria do cinema e um ano no qual ela entregou performances fortes e nada menos do que três filmes: Still Alice, Camp X-Ray e Clouds of Sils Maria.
Quando nós nos falamos na sexta-feira e focado especificamente em Clouds, ela estava mais junta e impressionante do que nunca, em grande parte, tenho certeza, porque nós estávamos falando de um filme que a deu permissão de refletir e ridicular o absurdo de sua experiência como celebridade famosa. (Nota: De acordo com Daniel Boorstin, o falecido bibliotecário do Congresso, a definição de “fama” é ser conhecido por realizações, enquanto a definição de “celebridade” é ser reconhecido por ser reconhecido; essas duas coisas não são mutuamente exclusivas e Stewart parece se encaixar nos dois lados da moeda.)
Clouds foca na relação entre uma estrela de cinema de meia-idade (a ganhadora do Oscar, Juliette Binoche) e sua assistente (Stewart) em torno do tempo o qual a estrela – uma verdadeira atriz – concorda em participal de um remake no teatro da peça que a tornou famosa décadas antes. Dessa vez, porém, ela vai interpretar a mulher mais velha, enquanto, o papel da mulher mais jovem que ela interpretou antes irá para uma celebridade aparentemente insípida e atormentada por escândalos (Chloë Grace Moretz).
Do ponto de vista de Stewart, o filme faz o serviço de mostrar ao espectadores como, na vida real, as atrizes como a personagem de Binoche (“que é interessante, boa e que se esforça para fazer coisas legais e coisas que fazem as pessoas pensarem”) – o tipo de coisa que ela enxerga em si mesma – devem coexistir agora, mais do que nunca, ao lado de pessoas como a personagem deMoretz (“superficial, atriz comercial e acomodada”). Além disso, faz o ponto de que o primeiro tipo é cada vez mais valorizado pela nossa sociedade do que o último, enquanto está mais sujeito ao tipo de cobertura da mídia invasiva pelos outros, o que deixa as linhas entre os dois borradas nos olhos de muitos e torna mais difícil para os verdadeiros artistas praticarem seus ofícios. “Isso é o que eu gosto sobre o filme,” diz Stewart. “Por que nós, como uma sociedade, não estamos mencionando o fato de que é tão louco que há pessoas que são tão cheias disso? Qual o motivo de estarmos consumindo eles em massa?”
Curiosamente, o projeto quase escorregou para longe dela. O roteiro foi mandado para ela anos atrás pelo produtor de Assayas, Charles Gillibert, que também produziu On the Road e, diz Stewart, se tornou “um dos meus amigos mais queridos e meu produtor favorito no mundo inteiro.” Ela imediatamente respondeu ao material, que inclua referências irônicas – escritas antes que Stewart fosse considerada para o projeto – a filmes de franquias, em geral, filmes de lobisomens especificamente, entre outras coisas. “Oh meu Deus,” ela exclama, “se tornou uma coisa muito mais complexa conforme fomos em frente, mas inicialmente eu fiquei ‘wow, isso é hilário! Isso é tão verdade! Isso é tão perfeito e adequado, eu amaria dizer essas palavras!’”
Ela disse para sua equipe como ela se sentiu e imaginou que eles iriam confirmar sua participação no projeto. “Eu imaginei que outras pessoas estariam tomando conta disso,” ela ri. Isso não aconteceu e Gillibert “não quis insistir por uma resposta.” Supondo que ela não estava interessada, ele eventualmente ofereceu o papel para outra atriz (Mia Wasikowska).
Quando Stewart soube disso, ela ficou arrastada e entrou em contato com Gillibert para tentar corrigir a situação. Gillibert e Assayas sugeriram que ela ficasse com o papel da estrela de cinema mais jovem, mas Stewart expressou restrição. “Eu não poderia me envolver nisso. É um bom papel, mas se eu interpretasse a atriz envolvida nesse escândalo, do jeito extremo que é apresentado no filme, teria sido uma sátira para mim e não tão interessante,” ela oferece. “Então eu lutei por isso [pelo papel de assistente],” ela diz, “e então as estrelas se alinharam de um modo e tudo funcionou.”(Wasikowska saiu do projeto e acabou interpretando a assistente de uma outra estrela de cinema na ficção no centro de outra sátira, Mapa para as Estrelas de David Cronenberg, que aconteceu de ter seu co-star Pattinson no elenco e estrear em Cannes junto com Clouds.)
Olhando para os dias de produção de Clouds, Stewart diz que ela gostou de interpretar uma assistente, como se oferecesse a ela uma perspectiva diferente da dinâmica com a qual ela é familiar. Assistente são uma presença grande na vida da maioria das estrelas de cinema – incluindo na dela em vários momentos, porém não agora – e ainda elas são pessoas que “não recebem um vislumbre nos filmes, normalmente,” ela aponta. Talvez isso é porque seu papel na vida de uma estrela depende não só da estrela, mas do momento – elas podem alternar as funções como secretárias, terapeutas e “amigas pagas”, que são sempre esperadas para ficar perto das estrelas, mas fora do holofote. “Eu vi muitas dessas cenas na vida real,” diz Stewart. “Você sabe, coisas estranhas acontecem com portas fechas, e nós [do filme] meio que abrimos essas portas e dizendo ‘isso é o que pode estar acontecendo na vida dessa mulher.’”
A atriz também se sentiu grata por ser parte de um tipo diferente de filme do que ela está acostumada: um francês, dialogado exclusivamente por mulheres. “São duas mulheres sentadas em um lugar basicamente falando sobre ser mulher, filmes, suas vidas e suas perspectivas,” ela diz, “e nunca realmente vai mais além do que isso. Isso nunca teria sinal verde nesse país, especialmente com o nível que foi [6,6 milhões de dólares]. Talvez você poderia fazer um filme por, tipo, um milhão de dólares [nos EUA], mas com a honra que eles [os franceses] dão para a história que contam, e como indulgentes mas completamente não levianos que são, e como estão dispostos a correr riscos. Eles fazem filmes porque possuem a compulsão para contar certas histórias, eles não fazem filmes para ficarem ricos e famosos, e isso é uma grande, massiva divisão entre o cinema europeu e americano. As pessoas com que eu gostaria de trabalhar nos Estados Unidos compartilham isso – mas você tem que achá-las.”
Ela também amou trabalhar com Binoche, uma atriz talentosa que também foi uma vez a “it girl” –Assayas co-roterizou ela em 1985 no filme Rendez-vous, o qual a fez uma estrela internacional – mas que apesar de toda a merda, conseguiu uma carreira notável e duradoura. Stewart possui inspirações similares – e campeãs – em outras co-stars, Jodie Foster de O Quarto do Pânico,Melissa Leo de Welcome to the Rileys e Julianne Moore de Still Alice entre elas. A razão é clara: se você olhar para ela fora da franquia Twilight – antes, depois e até durante aqueles cinco filmes – não há questionamento de que ela possui uma das melhores habilidades de sua geração.
O problema para Stewart é e tem sido por muito tempo que as as pessoas tenham a visto mais nos filmes de Twilight e acompanhando a cobertura do que qualquer coisa que ela tenha feito – talvez todo o resto que ela conquistou – o que é o motivo pelo qual muitas pessoas ainda a consideram uma celebridade tentando se passar por atriz. Algumas dessas pessoas, particularmente os tablóides que a cercam e a multidão anônima que passa mais tempo dissecando sua vida nas redes sociais do que vivendo sua própria no mundo real, possuem a capacidade de ser muito cruel com seus seguidores. Fazendo brincadeiras com seus hábitos de morder o lábio ou de passar seus dedos por seu cabelo e, algumas vezes, transformando-o em uma coisa bagunçada. “Eu sou totalmente e 100% sujeita a isso,” ela diz, adicionando que ela nem sempre achou tão fácil de deixar pra lá:“Levou muito tempo de adaptação.” Mas então ela percebeu, “não há nada que eu possa fazer sobre isso.”
“Se você pensar na fonte disso tudo,” diz Stewart (que claramente pensou), “que é na verdade o grande, grande, grande monstro verde de dinheiro, não há nenhum modo de parar. É uma nova indústria – notícias de celebridades é uma nova forma de entretenimento – e é uma indústria enorme que faz dinheiro, então como iria parar?” Isso tudo é o suficiente para dar a ela dúvidas sobre continuar em uma profissão que a coloca na linha de fogo? Sua resposta é um “não”desafiante. “Eu amo o que eu faço então vale a pena proteger,” ela diz, adicionando: “Espero que, um dia, a prioridade das pessoas mude um pouco.” Depois de uma pausa, ela adiciona:“Infelizmente, para outra pessoa.”
Talvez Stewart, como Jerry Lewis, está destinada a permanecer mais apreciada na França do que na América. Ou talvez, como Twilight e suas várias aparições nos tablóides forem para o passado e as pessoas descubram suas outras performances fortes (Adventureland é um dos meus favoritos) e ela continue a fazer seu bom trabalho (ela está confirmada em um filme de Drake Doremus esse ano e um de Woody Allen no próximo), mais americanos virão ao redor dela – e mais haters e paparazzis saírão de suas costas.
De qualquer jeito, ela planeja continuar trabalhando – e, ao contrário de muitas atrizes, ela está ansiosa para ficar mais velha. “As atrizes ficam loucas quando elas sentem que tem que se prender no que eram, ou qualquer coisa,” ela diz. “Eu estou tão satisfeita e feliz e absolutamente ansiosa para o que estar por vir.” Ela espera por uma batida e então adiciona: “Fale comigo novamente quando eu estiver 30 e estiver ‘Ahhhhh!” Ficando séria novamente, ela diz: “Quando o tempo passar, quem sabe quais serão minhas ambições e objetivos? Quem sabe como vou meu sentir sobre o que faço e o que vou me tornar? Tenho a sensação de que vou fazer isso por um tempo – pelo menos, estar envolvida nessa indústria.”
“É tão bom aqui fora,” Stewart comenta quando nós terminamos, e com isso, ela coloca seu boné, seus óculos escuros e anda pelo campus cheio, passando sem ser reconhecida pelos estudantes. Se ela não estivesse com um guarda-costas enorme, ela poderia ter se misturado, até para mim, como um deles.
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